Haute Écriture

Haute Écriture apresenta a escritura como ato de compor uma obra literária para além de sua função social, utilidade ou idiossincrasia autoral. Não se trata de sofisticação, afetação, esnobismo ou elitismo, mas de uma consciência profunda do fazer literário, clareza estética e de ciência dos seus dilemas e suas particularidades.

Mais do que contar uma história longa ou curta, ou expressar uma emoção em verso ou prosa, ou comentar sobre uma fato essente ou cotidiano, a haute écriture caracteriza-se por primar na elaboração minuciosa do texto em todo seu labor – desde a escolha do tema, dos componentes, da forma até o elemento principal da escrita – o signo, a palavra, o logos.

A haute écriture evidencia, no seu conjunto, a seleção criteriosa e não aleatória nem coincidente dos elementos da composição, que ultrapassa a proposta ideativa e propõe a prática elaborativa cuidadosa, considerando o ritmo e os níveis possíveis da recepção do conjunto da obra no sentido, não apenas estético e lúdico, mas ético e cognitivo.

A haute écriture defende a elaboração de uma literatura engajada não em temas, pois estes são circunstanciais, passageiros, locais e efêmeros. Propõe o engajamento no processo de evolução da linguagem na sua forma, conteúdo e expressão, na tentativa de apresentar soluções plausíveis, tanto de vanguarda como que respondam às demandas do público com seus gostos e critérios de fruição, sem esquecer da tradição.